Como Diferenciar Delírios e Alucinações – Fenômenos Mediúnicos

Dr. Roberto Lúcio Vieira de Souza

Médico-Psiquiatra – Vice-Presidente da Ame-Brasil

Na prática diária, tanto profissional quanto doutrinária, é constante a questão dos fenômenos psicopatológicos ligados às áreas do pensamento (delírios) e da senso-percepção (alucinações), assim como dos fenômenos mediúnicos, (em especial, os chamados inteligentes, a psicofonia, o desdobramento, a vidência e  a audiência), exigindo melhores estudos e reflexões para evitar as confusões que resultam incorretas indicações terapêuticas.

Allan Kardec, em “O Livro dos Espíritos”, já apresentava o posicionamento dos orientadores espirituais sobre essa confusão, em que se misturam quadros patológicos e manifestações espíritas, no item sobre “os possessos” – parte 2ª, cap IX, pergunta 474: “Muitos epilépticos ou loucos, que mais necessitavam de médico que de exorcismos, têm sido tomados por possessos”.

Com o desenvolvimento das neurociências e o retorno da ocupação com o tema espiritualidade, muitos trabalhos surgiram, questionando a realidade dos fenômenos mediúnicos e como eles ocorreriam na fisiologia cerebral. Existem, hoje, vários estudiosos sérios que acreditam que os temas que envolvem ciência e fé não se excluem e que é preciso voltar-se para a compreensão de tudo isso, de forma a ampliar o que seja a Verdade. Dr Francis S Collins, na introdução de seu best-seller “A Linguagem de Deus”, afirma que “este livro tem por objetivo disseminar esse conceito, argumentando que a crença em Deus pode ser uma opção completamente racional e que os princípios de fé são, na verdade, complementares aos da ciência”. (págs 11-12 – 1ª ed 2007).

O objetivo deste trabalho é demonstrar a existência desses fenômenos diante das evidências dos fatos, da necessidade de diferenciá-los, de modo a oferecer o devido tratamento a um e a outro, tanto dentro das possibilidades das ciências tradicionais, quanto da ciência espírita.

Um dos mais importantes aspectos desta discussão é a argumentação, existente desde antes do surgimento do Espiritismo, de que as crenças religiosas e suas manifestações seriam causa do surgimento ou do agravamento dos quadros de loucura; e que os rituais religiosos seriam refúgio para aquelas atuações, que os fenômenos apresentados e relatados seriam fruto da imaginação doentia dos seus autores e observadores.

Kardec, de maneira brilhante e racional, argumenta contra essa acusação em “O Livro dos Médiuns”, em sua primeira parte, no capítulo IV. Ali ele afirma: “Todas as idéias sempre tiveram fanáticos exagerados e é preciso se seja dotado de muito obtuso juízo, para confundir a exageração de uma coisa com a coisa mesma”. Mais à frente, o Codificador argumenta: “É fora de dúvida que uma causa fisiológica bem conhecida pode fazer que uma pessoa julgue ver em movimento um objeto que não se moveu, ou que suponha estar ela própria a mover-se, quando permanece imóvel. Mas quando, rodeando uma mesa, muitas pessoas a vêem arrastada por um movimento tão rápido que difícil se lhes fora acompanhá-la, ou que mesmo deita algumas delas no chão, poder-se-á dizer que todas se acham tomadas de vertigem, como o bêbado, que acredita estar vendo a casa em que mora passar-lhe por diante dos olhos?”

 

Sobre o Pensamento e a Vida Mental

 

Entender o que verdadeiramente é a mente e, por conseqüência, a consciência faz-se hoje o maior desafio da ciência. Temos entre os estudiosos dois grandes grupos. De um lado, estão os pesquisadores materialistas mecanicistas que acreditam que, quando for determinado todo o mapeamento cerebral e elucidados cada componente, função e interações, que esta descrição será capaz de dizer tudo sobre a natureza e a experiência humanas. No outro pólo estão os que crêem que esta visão reducionista jamais capacitará o homem a entender integralmente os sentimentos, as motivações profundas dos comportamentos e muito menos será capaz de explicar o produto mais fenomenal da vida: a consciência, propriedade particular da criatura humana, por esta compreensão transcender o nível da matéria.

Existem duas grandes correntes de pensamento no que concerne ao que seja a consciência (e por conseqüência a mente). Para o primeiro, a mente é o produto da atividade cerebral, uma propriedade do mundo físico, que pode ser explorada e, com o desenvolvimento das pesquisas, compreendida. O segundo acredita que a mente transcende a questão material. Neste grupo se sobrepõem as idéias do dualismo cartesiano – corpo/espírito.

Na busca desta compreensão surgem inúmeras dúvidas, as quais direcionam muitas pesquisas atuais. A jornalista Rita Carter assim se refere sobre elas em seu livro: “O Livro de Ouro da Mente”: “Ela [a mente] tem um propósito ou é apenas um subproduto da complexidade neural? É um córrego único e contínuo ou aquela sensação de continuidade e unidade é uma ilusão? Se fosse possível remover o conteúdo informativo de um cérebro vivente e mantê-lo separado de seu corpo – fazendo, talvez, um download dele para um disquete -, a consciência iria com ele? E, em caso afirmativo, onde exatamente ela estaria? De quais bytes de dados você poderia prescindir ao colocar vovô em off-line e ainda ter a certeza de que ele é capaz de desfrutar sua existência virtual?”.

Podem-se resumir os resultados já encontrados sobre o assunto, afirmando que as idéias são criadas nos lobos frontais. Nesta região são construídos os planos, reunidos os pensamentos, ocorrem as associações, formando novas memórias, e as percepções são armazenadas para posteriormente ser enviadas para as áreas que constroem a memória de longo prazo ou para o esquecimento. Para os que realizaram esses estudos, a região frontal do cérebro é o lar da consciência, pois nela reside o autoconhecimento e as emoções são processadas. Tais estudos vêm corroborar as idéias místicas tradicionais que já pregavam tais ensinamentos, colocando o terceiro olho nessa região.

Amit Goswami, no livro “O Universo Autoconsciente”, afirma: “A consciência é o que o torna o ser único que você é, diferente de sua amada e de qualquer outra pessoa, e que reage de forma particular ao presente”. Em sua teoria, o autor afirma que a consciência se reveste de quatro aspectos diferentes:  o campo da consciência, que ele chama de percepção; os objetos da consciência, tais como o pensamento e os sentimentos;  o sujeito da consciência ou experimentador; e a consciência como fundamento de todo o ser.

O Espiritismo entende que a consciência é um dos atributos fundamentais do Espírito.

Na pergunta de nº 621, de “O Livro dos Espíritos”, Kardec pergunta aos orientadores espirituais “Onde está escrita a lei de Deus?”, ao que eles respondem: “Na consciência”. Entretanto, naquela obra não há um maior esclarecimento sobre o que seja a consciência e de que forma ela possa fornecer recursos para a compreensão do que seja a mente.

No livro “O Problema do Ser, do Destino e da Dor” o célebre escritor Léon Denis assim se expressa:

“A consciência é, pois, como diria William James, o centro da personalidade, centro permanente, indestrutível, que persiste e se mantém através de todas as transformações do indivíduo. A consciência é não somente a faculdade de perceber, mas também o sentimento que temos de viver, agir, pensar, querer. É una e indivisível. A pluralidade de seus estados nada prova, como vimos, contra a sua unidade. Aqueles estados são sucessivos, como as percepções correlativas, e não simultâneos.

“Todavia, a consciência apresenta, em sua unidade, como sabemos, vários planos, vários aspectos. Física, confunde-se com o que a Ciência chama de ‘sensorium’, isto é, a faculdade de concentrar as sensações externas, coordená-las, defini-las, perceber-lhes as causas e determinar-lhes os efeitos. Pouco a pouco, pelo próprio fato da evolução, essas sensações vão-se multiplicando e apurando, e a consciência intelectual acorda. Daí em diante não terá limites seus desenvolvimentos, pois que poderá abraçar todas as manifestações da vida infinita”.

A codificação espírita não traz especificamente uma definição do que seja a mente.

O espírito Emmanuel, no livro “Pensamento e Vida”, define a mente como “o campo da nossa consciência desperta, na faixa evolutiva em que o conhecimento adquirido nos permite operar”.

Segundo o espírito André Luiz, em sua obra “Evolução em dois mundos”, o corpo mental é o envoltório sutil da mente. Haveria também uma estrutura fisiológica correlacionada com a sede da mente no campo físico, correspondente ao chamado centro coronário, que estaria instalada na região central do cérebro, que assimilaria os estímulos do Plano Superior e orientaria “a forma, o movimento, a estabilidade, o metabolismo orgânico e a vida consciencial da alma encarnada ou desencarnada”.

Através das informações de André Luiz, a área que hoje é considerada responsável pela a atividade consciencial do espírito, no campo cerebral, estaria afeta ao comando do centro cerebral. Ela estaria contígua ao coronário, com influência decisiva sobre as demais. Ela governaria “o córtex encefálico na sustentação dos sentidos, marcando a atividade das glândulas endócrinas e administrando o sistema nervoso, em toda a sua organização, coordenação, atividade e mecanismo”.

Tentando entender o mecanismo de integração cérebro-mente, Dr. Décio Iandoli apresenta essas inteligentes percepções, no seu livro “Fisiologia Transdimensional”:

“O centro coronário e o centro cerebral (frontal) trabalham em sintonia e sincronia no gerenciamento e encaminhamento das ‘ordens’ do princípio inteligente, cumprindo sua função de interface físico-etérica no seu plano mais superior e sutil.

“Se recordarmos a ligação do centro coronário à glândula pineal e do centro frontal à hipófise, facilmente entendemos essa relação funcional e seus mecanismos, já que a primeira subjuga, a partir dos centros hipotalâmicos, as respostas hipofisárias, que secretam seus diversos hormônios com ação geral e específica sobre os vários compartimentos orgânicos, como já explanado no capítulo da endocrinologia.

“Por este sistema, verte o ‘fluido mental’, secreção da mente e não do cérebro, que se difunde pelos caminhos neurais a todo o córtex (via glândula pineal) e, posteriormente, a todo o corpo biológico, por ação glandular e neural eferente”.

 

O Pensamento

Para os estudiosos vinculados às escolas mecanicistas, que conceberam o cérebro como uma máquina complexa, dotada de estados internos, o pensamento seria um desses estados semelhantes aos sentimentos.  As diversas justaposições desses estados, produzidas pela ação de um estímulo específico, provocariam as mais variadas possibilidades de atuação humana; o livre-arbítrio, nessa teoria, seria uma simples ilusão.

As informações da jornalista Rita Carter, no livro já anteriormente citado, faz entender a mecânica do pensamento dentro da moderna visão da neurociência:

“Pensar não é apenas um termo genérico para o conjunto de aptidões abrigadas no cérebro. Envolve muitas delas: recordar e imaginar, em particular. Mas inclui algo que não faz parte de nenhuma outra função: o autoconhecimento. Tal aspecto do pensamento é capturado na palavra que é muitas vezes usada paro o descrever: reflexão.

“O processamento de pensamentos é de uma certa maneira como os estágios posteriores do processamento sensorial. Assim como as várias partes de uma imagem – local, cor, formato, tamanho e assim por diante – são reunidas e integradas num todo, também nós reunimos diversas memórias e imagens e as colocamos juntas para criar um novo conceito. A grande diferença é que, enquanto a construção sensorial é inconsciente, o processamento de pensamentos é feito conscientemente. Quando o córtex frontal realiza suas tarefas, ele monitora o que está fazendo. Portanto, enquanto uma imagem simplesmente ‘chega à consciência, um conceito traz consigo o conhecimento de como veio a ser’”.

Segundo os estudos mais recentes, o pensamento, nos seus aspectos práticos, que são a manutenção de idéias e a suas manipulação, ocorrem em uma região do córtex pré-frontal dorsolateral (lado superior), que é também a região da chamada memória operacional. Nesta área são feitos os planejamentos e as escolhas das várias ações possíveis da criatura.

Dentro da abordagem espírita, o pensamento é um atributo do espírito (“O Livro dos Espíritos”, perg 89), sendo, portanto, uma ação da própria essência do ser.

Ainda do ponto de vista espiritista, o pensamento é um tipo de matéria formada por partículas de características próprias, modificando-se de conformidade com a sua individualidade, quantidade, tipo, qualidade e aplicação. É responsável pela psicosfera que envolve o espírito, interferindo no corpo físico. Portanto, teria uma expressão mais material do que se consegue perceber, sendo o agente criador de uma dimensão diferente da que trata a Física, expressando ao redor da criatura aquilo que habita em sua intimidade.

Essas partículas são manipuláveis e, de acordo com a inteligência que as conduz, podem se comportar e se direcionar de formas diversas.

O pensamento se encontra sujeito à vontade daquele que o origina. André Luiz, no livro “Evolução em Dois Mundos”, afirma:

“A partícula do pensamento, embora viva e poderosa na composição em que se derrama do espírito que a produz, é igualmente passiva perante o sentimento que lhe dá forma e natureza para o bem e o mal”.

O pensamento emitido pode vibrar em diferentes faixas, dependendo do sentimento que o gerou. Os de vibrações mais elevadas são de alta freqüência, mais etéricos, energéticos, de pequeno comprimento de onda e são originários de sentimentos derivados do amor verdadeiro, produzindo criações de expressão superior. Os de baixo padrão vibratório são mais densos, com menor teor de energia, de grande comprimento de onda e estão ligados aos sentimentos vinculados aos vícios e à matéria, presentes na maioria dos encarnados e daqueles que, desencarnados, comungam dessa esfera, mantendo uma realidade mais sombria e, provavelmente ligada ao surgimento das chamadas formas alucinatórias, observadas pelos portadores de transtornos mentais.

Segundo os estudos da Teosofia, os pensamentos criam uma série de vibrações na substância do corpo mental. Este, por sua vez, exterioriza uma fração de si mesmo, o qual vai atrair, no meio etéreo, substâncias semelhantes a si.

Quando emitem pensamentos, as estruturas sutis do espírito, em especial o corpo mental, utilizam forças, as quais demandam maior ou menor esforço, segundo as suas naturezas mais intrínsecas, produzindo resíduos de partículas mentais. Esses resíduos vão atuar tanto no próprio perispírito quanto no ambiente e nas individualidades que o sentirem. Se eles são de maior densidade, portanto, vinculados às questões mais materiais apresentarão resíduos mais tóxicos, provocando alterações ao nível do perispírito ou materializando formas-pensamentos que, pela sua inferioridade, atingirão as estruturas mais densificadas do próprio espírito ou de terceiros sintonizados com os mesmos princípios morais.

Os pensamentos de alto teor vibratório, por sua leveza e superioridade, atuam como higienizadores, causando harmonização, podendo levar à renovação do próprio perispírito, reestruturando-lhe as áreas comprometidas, proporcionando maior estado de saúde e sentimento de bem-estar.

Do surgimento dos delírios e alucinações

 

Sabe-se hoje que as atividades cerebrais são reguladas pelos neurotransmissores, que são substâncias químicas secretadas pelos neurônios, os quais funcionam em locais específicos e que podem apresentar efeitos diferentes, conforme a região ativada. Já foram identificados aproximadamente cinqüenta deles, mas, certamente, eles são muito mais.

Entre os mais importantes, encontra-se a dopamina, que controla os graus de excitação de várias regiões cerebrais. Os níveis elevados deste neurotransmissor parecem estar associados ao surgimento da esquizofrenia e dos processos alucinatórios e delirantes.

Uma das observações importantes dos estudiosos é a de que o cérebro não vê, ouve ou sente o mundo exterior. Na verdade, ele constrói respostas aos estímulos aos quais é submetido. Estes levam o cérebro a criar uma imagem, como no caso das ondas luminosas que após se chocarem com objetos, atingem os neurônios sensíveis à luz no olho, que está de acordo com as informações recebidas. No entanto, o cérebro pode fazer uma leitura errônea do estimulo captado ou gerar estímulos próprios, os quais seriam interpretados como exteriores a ele. Estas situações gerariam no primeiro caso as ilusões e no segundo, as alucinações.

Acredita-se que alucinação, imaginação, percepção ou identificação teriam as mesmas bases anatômicas e neuroquímicas. Numa varredura cerebral, o que se identifica são as mesmas atividades e nas mesmas áreas cerebrais, tanto no caso da percepção de um objeto externo ou no simples fato de imaginá-lo. No entanto, a ativação na presença do objeto seria maior do que no caso da imaginação.

No caso do relato de visões de “assombrações”, segundo os estudiosos, o que diferiria é o fato de a inconsciência do observador gerar tais percepções, mas não uma mudança do mecanismo cerebral de percepção.

Buscando compreender as alucinações, neurocientistas acreditam que elas podem ser entendidas como experiências sensoriais geradas automaticamente e de forma intensa, oriundas de um mecanismo disfuncional do indivíduo.

C. D.Frich publicou um trabalho na revista “The Lancet”, em 1995, em que afirma que as vozes escutadas pelos esquizofrênicos são a sua própria voz, geradas numa parte diferente do cérebro, que não o centro da fala, provocando um input auditivo em outra região cerebral.Nas pessoas normais isso não aconteceria, pois haveria um monitoramento de todo o cérebro, evitando que a fala pessoal fosse confundida com vozes externas.

O sistema que possibilita a diferenciação entre estímulos internos e externos pode ser alterado nas chamadas pessoas normais, como no caso de luto intenso, quando essas criaturas relatam ter escutado a voz do morto.

No livro citado anteriormente, Rita Carter aponta uma série de situações com as quais ela relaciona alterações em regiões específicas do cérebro:

– 15% das pessoas que tem perda parcial da visão apresentam relatos de alucinações;

– lesões no lobo frontal esquerdo provocam a redução na capacidade de distinguir os estímulos gerados externa e internamente;

– lesões na área occipito-parietal levam a crença de que objetos podem aparecer e desaparecer, por uma incapacidade de reter dois objetos na visão ao mesmo tempo;

– estimulação do lobo temporal pode provocar intensos flashbacks, sensações de “presenças” de seres ou pessoas e alteração na percepção da forma dos objetos;

– a estimulação do sistema temporal/límbico pode levar as sensações intensas de alegria, de estar na presença de Deus e precipitar visões religiosas;

– quando se estimula o córtex auditivo pode se produzir vozes alucinatórias. No caso da sua área superior, a percepção será de sons, barulhos, como silvos, cliques e estrondos;

– na área de formato visual, presente no hemisfério direito, surgirão contornos fantasmagóricos, no caso de uma superestimulação;

– a percepção de duplos espectrais de pessoas vivas ou de si próprio pode ser o resultado de uma alteração da margem do córtex parietal/sensorial.

Estudos apontam ainda que a enxaqueca, a epilepsia e uma grande variedade de drogas podem alterar a atividade cerebral normal, provocando alucinações.

No caso de pessoas que perdem ou reduzem a capacidade de apreender os estímulos sensoriais externos, há maior propensão para ouvir vozes e sons fantasmas. Acreditam os estudiosos que o cérebro evoluiu para manter uma vigilância permanente do mundo externo e que, quando o fluxo desses estímulos é desligado, ele busca algo que o substitua, ampliando a intensidade e significação de pequenos estímulos.

Os casos de alucinações somatossensoriais são de mais difícil identificação, pois os indivíduos normais tomam como realidade leves alucinações, como no caso em que se coça na ausência de um estímulo externo gerador.

Desta forma, a visão da ciência atual conclui que as alucinações seriam fruto de lesões de áreas sensitivas específicas, da superestimulação em alguns casos, de processos patológicos com sofrimento neuronal, como nas enxaquecas, epilepsia, intoxicações por substâncias químicas, ou como mecanismo de substituição no caso da perda de determinadas sensibilidades.

A ciência espírita não nega a realidade dos fenômenos alucinatórios, mas vai além na sua compreensão. Por saber que o pensar gera, ao derredor da criatura, formas compatíveis com seu pensamento; que, quando estes pensamentos se tornam constantes e de grande intensidade, surgem as formas-pensamentos, as quais parecem ser entidades ou vivências reais que – por não fazerem parte do campo mental dos que observam o fenômeno – são consideradas inexistentes.

Existe ainda a realidade espiritual, que transcende os mundos físicos, móvel de estudo do Espiritismo, a qual pode ser sentida e experimentada de forma mais ostensiva pelos chamados médiuns ou sensitivos que, ao relatá-las, podem ser vistas como alucinações. O fenômeno seria mais próximo das questões patológicas quando a mediunidade estivesse conturbada, apresentando uma expressão afetiva adoecida pelo medo, pela culpa e, em especial, pela raiva, como nas chamadas obsessões ou possessões.

Nesse sentido, a Organização Mundial de Saúde já orienta que a fenomenologia que se assemelha às alucinações precisa ser observada dentro do aspecto cultural de uma sociedade e, fazendo parte desta cultura, não pode ser entendida como expressão patológica por si somente.

Os delírios são alterações do juízo de realidade (capacidade de distinguir o falso do verdadeiro) e implica lucidez da consciência. Inúmeros estudos utilizando SPECT e PET em indivíduos esquizofrênicos detectaram a presença de hipoatividade cortical frontal e hiperatividade temporal em pacientes delirantes agudos. Esses métodos de investigação demonstraram, principalmente através de um amplo estudo PET do FSC, que diferentes agrupamentos de sintomas delirantes da esquizofrenia estão relacionados a padrões específicos de atividade cerebral subjacente. Tais situações estariam diretamente ligadas ao aumento da ação dopaminérgica, já que o uso de inibidores desse neurotransmissor faz desaparecer a sintomatologia em quase sua totalidade.

Os indivíduos acometidos tanto de delirium como de delírio têm alterações do pensamento no que se refere à compreensão dos fatos. Nos casos das alucinações as percepções são tidas como realidade, levando a comportamentos e vivências alterados. Todas estas alterações terminam por comprometer a interação com outras pessoas, provocando padrões anormais de comportamento.

Nesse aspecto, o Espiritismo observa, como hoje a física quântica já afirma, que a realidade não pode ser determinada da forma reducionista, como os materialistas insistem em realçar. A criatura convive com diversas expressões de conhecimentos, as quais deverão  ser paulatinamente apreendidas pela ciência ortodoxa. Uma delas é a realidade de uma experiência reencarnatória, onde memórias de vidas passadas podem apresentar-se à criatura, facilitando ou dificultando determinadas vivências atuais, entendidas como delírios.Outra é oriunda da sensibilidade mediúnica, onde o sensitivo apreende determinadas verdades, de conotação afetiva positiva ou negativa, que, ao serem relatadas de forma contundente, são vistas como delirantes. Como exemplo, nos casos de obsessão espiritual, em que o médium relata que está sendo perseguido por uma criatura que o acusa de um crime. Por não saber que é médium ou por estar desequilibrado emocionalmente, este relato pode ser considerado um delírio persecutório, quando, na verdade, seria fruto de acusação de uma entidade espiritual de atitude vivida nesta ou em outra encarnação.

Uma abordagem neurológica dos fenômenos místicos e dos estados alterados da consciência

 

O estudioso William Sargant chegou à conclusão de que as semelhanças entre os Estados Alterados de Consciência (EACs) transcendentes por ele observadas apontavam para um sistema cerebral comum, afetado por diferentes manipulações culturalmente específicas. A partir disso, os neurocientistas têm fornecido suporte a esse mecanismo, explicando que existe um circuito neural complexo encontrado nos níveis médios do cérebro dos mamíferos, conhecido como sistema límbico. Esse sistema tem uma variedade de funções emocionais, motivacionais e de memória, além de estar envolvido com as funções de atenção e do despertar. A estimulação elétrica de áreas límbicas em pacientes de neurocirurgia produz intensas alterações da consciência, incluindo aquelas presentes nos estados transcendentes ou místicos.

Alguns tipos de enxaqueca e ataques epiléticos que se originam nas estruturas límbicas do lobo temporal são também capazes de produzir estados dissociativos similares. A idéia de que experiências transcendentes são causadas pela hiperativação das funções normais desse circuito é reforçada pela pesquisa em neurofarmacologia, mostrando que drogas psicodélicas podem alterar a atividade no sistema límbico. E, finalmente, patologias associadas a profundos distúrbios emocionais e alucinações são também conhecidas por envolver anormalidades límbicas.

Após coligir pesquisas em drogas psicodélicas, neuropatologias e várias técnicas comportamentais usadas para alterar a consciência, o neuropsiquiatra Arnold Mandell (1880) comparou seus efeitos com os descritos na tradição mística. Ele mostrou como todas essas manipulações eram capazes de afetar a atividade neural no sistema límbico. Mandell implicou interações especiais entre o septo, hipocampo e amídala como decisivas para a ocorrência de experiências transcendentes. Este circuito pode ser afetado por vários estados patológicos, assim como por estimulação rítmica prolongada, privação sensorial e as três grandes classes de drogas alucinógenas (as que afetam os neurotransmissores serotonina, acetilcolina e as catecolaminas).

Essa abordagem não invalidaria a existência de tais experiências místicas. Ao contrário, Mandell afirma que elas podem acontecer por um mecanismo fisiológico ou fruto da ação de determinadas substâncias químicas. Para o Espiritismo o sistema nervoso em sua totalidade é a expressão mais evoluída do indivíduo e é através dele que o espírito atua controlando as ações do corpo físico. Portanto, toda a ação espiritual teria uma expressão física, como se vê a seguir.

Uma teoria sobre o mecanismo neurofisiológico da mediunidade

 

Kardec, em “O Livro dos Médiuns”, afirma que a mediunidade seria uma faculdade orgânica, ou seja, dependeria de um organismo, sendo que este abarcaria a estrutura do ser encarnado, incluindo toda bagagem física, especializada para tal, e dos elementos perispirituais, que capacitam o homem a viver no intercâmbio entre o mundo material e o espiritual. Como já foi citado anteriormente, as estruturas pertencentes ao sistema nervoso são as mais especializadas, além de serem as mais sutis do corpo físico.

Importante ressaltar que, na realidade, os fenômenos mediúnicos se iniciam no corpo espiritual, ou mais precisamente em estruturas menos densas, onde se encontra a manifestação dos pensamentos.

Quanto a essa percepção, vejam-se as colocações de André Luiz, em “Evolução em Dois Mundos”, ao se referir ao surgimento dos rudimentos da mediunidade na Terra: “Considerando toda célula em ação por unidade viva, qual motor microscópio, em conexão com a usina mental, é claramente compreensível que todas as agregações celulares emitam radiações e que essas se articulem, através de sinergias funcionais, a se constituírem de recursos, os quais podemos nomear por tecidos de forças”.

Nessa tela eletromagnética circula o pensamento, colorindo-a com as vibrações e imagens de que se constitui, aí exibindo as solicitações e os quadros que improvisa, antes de irradiá-los no rumo dos objetos e das metas que demanda. Nessa conjugação de forças físico-químicas e mentais existem as auras humanas, peculiares a cada indivíduo, em que todos os estados da alma se estampam, com sinais característicos e em que todas as idéias se evidenciam, plasmando telas vivas. A aura é, portanto, a plataforma onipresente em toda comunicação com as rotas alheias e nas atividades de intercâmbio com a vida que rodeiam a criatura. Por essa couraça vibratória, espécie de carapaça fluídica, é que começaram todas as expressões da mediunidade no planeta.

Essa obra de permuta, no entanto, foi iniciada no mundo sem qualquer direção consciente. A intuição foi, por esse motivo, o sistema inicial de intercâmbio.

A tentativa de compreensão dos mecanismos em nível físico leva ao estudo do mecanismo das estruturas cerebrais que são as mais sutis e aprimoradas do ser. Assim, o cérebro e todas as estruturas do sistema nervoso estão intimamente vinculados ao fenômeno mediúnico.

O desenvolvimento da neurociência, apoiado nos mais modernos meios de estudos da atividade neuronal, como a tomografia computadorizada a ressonância magnética e a tomografia por emissão de pósitrons, tem caminhado para a compreensão da fisiologia cerebral.

Admite-se hoje que a atividade mental seria a resultante de uma ação harmônica de um grupo de estruturas cerebrais que, interagindo, formariam um sistema funcional complexo.

A doutrina espírita tem mostrado que, na realidade, os processos mentais seriam frutos da atividade espiritual com repercussão na estrutura física cerebral; sendo assim, o cérebro seria apenas o instrumento. No entanto, para ocorrer essa integração entre a essência espiritual, sua manifestação e a estrutura física, é necessária a existência de um elemento, que seja intermediário tanto na função e também em sua composição. Esse corpo é chamado espiritual ou perispírito.

“Esse corpo espiritual é composto de uma substância vaporosa para os teus olhos, mas ainda bastante grosseira para nós, assaz vaporosa, entretanto, para poder elevar-se na atmosfera e transportar-se aonde queira”. (LE. perg. 93).

Por esse corpo semimaterial, presente também nos desencarnados, ocorreriam as comunicações mediúnicas. A partir das informações da neurologia e dos ensinos dos espíritos, busca-se maior compreensão do fenômeno mediúnico e da participação de estruturas e áreas cerebrais em sua expressão.

Todo o material apresentado aqui é fruto de síntese e compilação de estudos realizados por escritores dos dois planos da vida.

Do ponto de vista anatômico, o sistema nervoso é constituído pelos sistemas nervoso central e periférico. O periférico é constituído por nervos e gânglios. Os nervos são cordões esbranquiçados que ligam o sistema nervoso central (SNC) aos órgãos periféricos. Quando a sua origem se dá ao nível do encéfalo, ele é chamado de nervo craniano. Se sua origem ocorre ao nível da medula espinhal, ele é chamado de nervo espinhal. Em alguns nervos podem existir certas dilatações constituídas principalmente de corpos celulares de neurônios, que são os gânglios.

Os nervos funcionam como estações emissoras e receptoras, manipulando a energia mental, projetada ou recolhida pela mente, em ação constante nos domínios da sensação e da idéia, atuando nos demais centros do corpo espiritual e nas zonas fisiológicas que se configuram no veículo somático.

Uma proposta deste modelo levanta as seguintes explicações:

No córtex cerebral se origina a atividade motora voluntária e consciente. Ali também são codificadas todas as percepções sensitivas que chegam ao cérebro e organizadas as funções cognitivas complexas. Para tornar-se consciente, a atividade cerebral precisa estabelecer uma interação entre o córtex cerebral, o tálamo e a substância reticular do tronco cerebral e do diencéfalo, na qual se situa o centro da consciência. Uma lesão nessa substância provoca o estado do coma.

Da substância reticular projetam-se estímulos neuronais ativadores ou inibidores da atividade do córtex cerebral, responsável pelos diversos estágios de consciência. Desta forma, o fato de uma manifestação mediúnica ser consciente ou não, após o fenômeno para o medianeiro, deve envolver estas áreas ligadas à consciência, certamente objetivando algum benefício para a estrutura do sensitivo.

Ao estudar a anatomia e fisiologia do córtex, concluímos que os fenômenos da psicografia, a vidência, a audiência e a psicofonia devem ter a participação ativa dessa estrutura, pois ali se encontram as áreas específicas para a escrita, visão, audição e fala. Mesmo quando na inconsciência do médium, esses centros devem ser ativados para decodificação e organização motora do fenômeno. Na ausência de um bloqueio do sistema reticular ativador ascendente (por parte do médium ou do espírito comunicante), as mensagens seriam sempre conscientes e o médium poderia acrescentar sua participação, distorção, ou a falta de detalhes dependeria do maior ou menor grau de desenvolvimento mediúnico. Essas interferências do sensitivo são chamadas de anímicas e sempre se fazem presentes, pois o fenômeno tem que se expressar a partir dos recursos intelectivos, emocionais e culturais do medianeiro. Elas diferem da ação maldosa de criaturas que simulam tais fenômenos na busca de terem algum tipo de ganho pessoal – o que a doutrina espírita também chama de charlatanismo.

Os gânglios ou núcleos da base, constituídos por aglomerados de neurônios situados na profundidade da substância branca cerebral, são responsáveis por funções motoras automáticas e involuntárias, e fazem parte do sistema extrapiramidal. Eles controlam o tônus muscular, a postura corporal e uma série de movimentos gestuais que completam a movimentação voluntária; após o nascimento, coordenam a nossa gesticulação reflexa e automatizada. Progressivamente surgem os movimentos intencionais (voluntários), projetados pelo córtex através de sua área motora principal, que se vão sucedendo com maior facilidade, tornando-se automáticos. Considerando o fenômeno mediúnico da psicografia e da psicofonia, pode-se observar que os médiuns, ao discursar ou escrever sob influência do espírito comunicante, geralmente o fazem revelando gestos, posturas e expressões mais ou menos comuns aos todos sensitivos, o que leva a crer que haja uma ação de característica primária na utilização dessas áreas cerebrais durante a fenomenologia, provocando essa semelhança no agir.

Na psicografia, por exemplo, a escrita freqüentemente ocorre com muita rapidez, as palavras podem aparecer escritas com pouca clareza e as letras, geralmente, são grandes, provavelmente, para facilitar a escrita rápida. A caligrafia é sem capricho e não há necessidade de o médium acompanhar o que escreve, podendo, inclusive, ocorrer escrita em espelho. Nesses tipos de fenômenos, os médiuns conscientes relatam que são levados a escrever ou falar como se isso independesse de suas próprias vontades.

Numa correlação da fisiologia do sistema extrapiramidal (gânglios da base e área cortical pré-motora) com as características da comunicação mediúnica, pode-se dizer que o espírito comunicante se utilizaria desse sistema automático para se manifestar com maior rapidez, com um mínimo de gasto de energia e menor interferência consciente do médium e maior possibilidade de suceder uma amnésia. Essas comunicações seriam resultado de uma constelação de automatismos complexos, desempenhados pelo sistema extrapiramidal do médium, mas com a co-autoria do espírito comunicante. Como essa atuação não impediria a consciência do médium, ocorreriam ingerências voluntárias do sensitivo, podendo ele interromper o fenômeno quando quisesse ou necessitasse, justificando desse modo a necessidade da educação mediúnica.

Na ausência de bloqueio desse sistema reticular ativador ascendente, por parte do  médium ou do espírito comunicante, as mensagens seriam sempre conscientes, com que o médium poderia acrescentar sua participação intelectual na comunicação, causando, muitas vezes, dúvidas no intermediário sobre a realidade do fenômeno. O que se acredita, atualmente, é que nenhuma comunicação mediúnica seja totalmente inconsciente, pois é sempre necessária a participação do córtex. O fenômeno da inconsciência seria fruto de amnésia provocada pelo desligamento entre os elementos sutis do espírito e da estrutura psíquica do médium (interação de campos de força), provavelmente envolvendo o sistema reticular ativador ascendente.

Os trabalhos modernos da neuropsicologia têm identificado no córtex do hemisfério direito as funções correlacionadas com a organização de noção geométrica e espacial. Quando ocorrem lesões nessas áreas as falhas nos desenhos são muito características: os objetos são esquematizados com negligência de detalhes, ficando as figuras incompletas. Os médiuns que captam informações à distância ou registram visões imateriais também costumam descrever suas percepções com falta de detalhes ou amputações, semelhantes às das síndromes do hemisfério direito. Esse nível de distorção ou de falta de detalhes dependeria do maior ou menor grau de desenvolvimento mediúnico ou da utilização dessas áreas cerebrais durante este tipo de fenômeno, dando como resultado essas percepções distorcidas.

O tálamo é um núcleo sensitivo por excelência, exercendo um papel receptor, centralizador e seletor das informações advindas dos botões sensórios. Assim, todos os estímulos do tipo dor, tato, temperatura e pressão, percebidos em toda extensão do corpo, percorrem as vias neurais, terminando no tálamo. Aqueles estímulos são percebidos, priorizados e selecionados, chegando ao cérebro apenas os mais convenientes ou os mais urgentes. Para os de menor importância, o tálamo pode fornecer as informações desejadas, quando essas são requeridas pelo cérebro.

Desse modo, o tálamo exerce um papel bloqueador, interrompendo o caminho até o córtex cerebral, o qual será alcançado se a informação for nova ou de interesse ou, ainda, de risco. É bem provável que muitas sensações somáticas referidas pelos médiuns, dando a impressão da aproximação de entidades espirituais, sejam efeitos dos estímulos talâmicos. A possibilidade de facilitação ou inibição para a sensibilidade desses estímulos espirituais estaria sob o comando do córtex cerebral, acrescida à própria postura atenciosa do médium, em especial, devido ao seu estado emocional ou a sua postura disciplinar na mediunidade.

Com as pesquisas de Lener, em 1958, a partir da descoberta da melatonina, a glândula pineal passou a ser estudada com maior ênfase. Desde então foram sendo esclarecidas suas relações com a luminosidade. Experimentalmente foi demonstrado que a luz interfere na função da pineal através da retina, atingindo o núcleo quiasmático, o hipotálamo, o tronco cerebral, a medula espinhal, o gânglio cervical superior, chegando finalmente ao nervo conari, na tenda do cerebelo. Entre a pineal e o restante do cérebro não há uma via nervosa direta, sendo sua ação resultado das repercussões químicas das substâncias que produz. Pesquisas mais recentes demonstram relação direta da melatonina com uma série de patologias neurológicas, como a epilepsia, a insônia, a depressão e os distúrbios do movimento. Altas dosagens de melatonina injetadas em alguns animais desenvolvem incoordenação motora, perda da motricidade voluntária, relaxamento muscular, queda das pálpebras, pêlo-ereção, vaso dilatação das extremidades, redução da temperatura e respiração agônica (muitos desses fenômenos estão presentes nos relatos dos médiuns no início das percepções espirituais). Além disso, descobriu-se que, ao interagir com os neurônios serotoninérgicos e com os receptores benzodiazepínicos do cérebro, a melatonina provoca um efeito sedativo e anticonvulsivante. Alguns trabalhos confirmam uma propriedade analgésica central da melatonina.

Acredita-se na possibilidade da melatonina ter importante papel na gênese de algumas patologias psiquiátricas, como a depressão e a esquizofrenia.

A literatura oferece uma série de informações que dão destaque especial a essa glândula, como núcleo gerador de irradiação luminosa, servindo como porta de entrada para a percepção do mundo espiritual e como elemento físico através do qual o espírito rege toda a estrutura somática. André Luiz, através da psicografia de Francisco C. Xavier, no livro “Missionários da Luz”, assim se refere à pineal: “É a glândula da vida mental. Ela acorda no organismo do homem, na puberdade, as forças criadoras e, em seguida, continua a funcionar como o mais avançado laboratório de elementos psíquicos da Criatura terrestre (…). Ela preside aos fenômenos nervosos da emotividade, como órgão de elevada expressão no corpo etéreo”.

Dr. Jorge Andréa sobre esta glândula, em seu livro “Forças Sexuais da Alma”, afirma: (…) “seria realmente o casulo das energias do inconsciente, a sede do espírito, pela possibilidade de ser a zona medianeira de transição entre o energético e o físico. A glândula pineal deve ser considerada a glândula da vida psíquica; a glândula que ilumina toda a cadeia orgânica, orientando as glândulas de secreção interna através das estruturas da hipófise. (…) seria a tela medianeira onde o espírito encontraria os meios de aquisição dos seus íntimos valores, por um lado, e, pelo outro, forneceria as condições para o crescimento mental do homem, num verdadeiro ciclo aberto, inesgotável de possibilidades e potencialidades. Descartes atribuiu-lhe a honra de ser a sede da alma, ou seja, o ponto em que a alma se pendia ao corpo. Ela seria uma chave de ligação elétrica, ou melhor, uma válvula. Os nervos seriam os canais por onde passam os impulsos eletromagnéticos eletroquímicos, mas seria no corpo pineal que se registrariam esses impulsos e transmitidos para o espírito”.

Pastorino, no livro “Técnicas da Mediunidade”, ao comentar sobre a calcificação da glândula, assim se expressa: “A própria chamada areia (sais calcários) tem sua tarefa específica, ainda não revelada: com suas lâminas concêntricas desincumbe-se de seu serviço à semelhança daquela pedra natural denominada galena, que possui capacidade idêntica, de detectar ondas hertzianas”.

Na própria pedra galena é indispensável procurar um pontinho microscópio para conseguir essa transmutação. Assim ocorre com o corpo pineal, muito superior em seu funcionamento à galena. Nele temos, não propriamente como interpretou Descartes, mas como a válvula transmissora-receptora de vibrações do corpo astral a regular todo o fluxo de emissões do espírito para o corpo físico e vice-versa. Daí sua grande importância para a mediunidade. Ao se observar a sensibilidade da pineal à luz, pode-se pensar ser ela também mais sensível às vibrações eletromagnéticas. A irradiação espiritual seria essencialmente semelhante à onda eletromagnética que conhecemos, compreendendo assim sua ação direta sobre a pineal. Isso também explicaria o porquê da maior presença de fenômenos mediúnicos em situações desprovidas/ ou de pouca luminosidade.

Desse modo, num primeiro contato do médium com a entidade espiritual, esse encontro se daria através da pineal. A ação química, a partir do grau de estimulação no fenômeno mediúnico, explicaria aquelas sensações relatadas pelos médiuns, bem como as flutuações da intensidade e freqüência dessas. Á medida que desenvolva sua capacidade e moral, o médium terá as sensações diminuídas em seus aspectos dolorosos, fazendo da mediunidade, cada vez mais, um instrumento de crescimento e de felicidade.

Características marcantes dos delírios

a)     Perda do juízo da realidade por parte do sujeito;

b)     Ausência da consciência da sua própria enfermidade;

c)     Firme convicção do sujeito da veracidade (objetividade) de suas idéias;

d)     Não modificáveis nem pela experiência, nem por conclusões irrefutáveis;

e)     Incorporados à personalidade;

f)      Incorrigíveis, porque a convicção anormal se assenta sobre um transtorno da personalidade;

g)     Apresentam-se como uma forma de pensamento desassociado e autista;

h)     Como se constitui uma alteração patológica do conteúdo do pensamento, proveniente de quadro que pode comprometer o sujeito como uma unidade, o resto dos processos do pensamento pode ser afetado (desagregação delirante).

Características marcantes das alucinações

 

a)     São percepções sem um estímulo externo, emancipadas de todas as variáveis que podem acompanhar os estímulos ambientais;

b)     Convicção inabalável do sujeito em relação ao objeto alucinado;

c)     O objeto alucinado, muitas vezes, é percebido com maior nitidez que os objetos reais de fato;

d)     Podem se manifestar através de qualquer um dos cinco sentidos, sendo as mais freqüentes as auditivas e visuais;

e)     O envolvimento psíquico é mais contundente e de caráter mais mórbido do que nas ilusões.

Características fundamentais do fenômeno mediúnico

 

a)     Na grande maioria das manifestações não há perda do juízo da realidade e, quando isto acontece, é prova de um comprometimento do sensitivo, que necessita de algum tipo de ajuda especializada, sem descaracterizar a existência da sensibilidade mediúnica;

b)     O comportamento do médium, no geral, segue os parâmetros da normalidade, reconhecendo a realidade do fenômeno e sua origem, dentro das suas crenças. Isso pode ser confirmado pelo trabalho do Dr Alexander Moreira, que estudou 115 médiuns espíritas escolhidos aleatoriamente em instituições kardecistas da cidade de São Paulo, tendo verificado que eles “evidenciaram alto nível socioeducacional, baixa prevalência de transtornos psiquiátricos menores e razoável adequação social. A mediunidade provavelmente se constitui numa vivência diferente do transtorno de identidade dissociativa. A maioria teve o início de suas manifestações mediúnicas na infância, e estas, atualmente, se caracterizam por vivências de influência ou alucinatórias, que não necessariamente implicam num diagnóstico de esquizofrenia”. “Fenomenologia das experiências mediúnicas, perfil e psicopatologia de médiuns espíritas” Almeida, Alexander Moreira de – Tese de Doutorado em Psiquiatria – USP. 2005.

c)     É capaz de ocorrer o questionamento do sensitivo, em especial, sob o aspecto do conteúdo apresentado e se relaciona diretamente com suas crenças religiosas;

d)     Não é parte da personalidade do médium, mas os conteúdos morais e as experiências podem modificar positivamente a vida afetiva e os comportamentos do sensitivo. No entanto, nos processos obsessivos podem apresentar sérias semelhanças com os quadros patológicos, necessitando da intervenção de profissionais especializados para diferenciar uma de outra situação;

e)     A grande maioria dos sensitivos não apresenta transtornos importantes da personalidade e fora do fenômeno tem uma vida comum, cumprindo os papéis fundamentais dentro da sociedade;

f)      O conteúdo das manifestações não tem caráter dissociativo ou autista; geralmente, são congruentes com a realidade e, algumas vezes, trazem revelações que podem ser confirmadas por terceiros, desconhecidas dos sensitivos. Os quadros não são constantes na vida da criatura, o que não impede que o médium tenha um cotidiano semelhante ao da maioria das pessoas;

g)     Por não se constituírem manifestações patológicas não geram um comprometimento da vida social do médium, nem causam uma desagregação interna do indivíduo.

Desse modo pode-se resumidamente identificar alguns elementos para diferenciar os fenômenos delirantes-alucinatórios das manifestações mediúnicas:

– Características do fenômeno

Os quadros patológicos são acompanhados de uma sintomatologia mais ampla do que a presença de delírios e alucinações, na maioria das vezes. Deve ser avaliada toda a história do indivíduo, que quase sempre já apresentava sinais de alterações emocionais. É muito comum a presença de quadros semelhantes nos familiares mais próximos, podendo ser induzidos por doenças orgânicas ou traumatismos e pelo uso de substâncias químicas. Entretanto, alguns casos de eclosão mediúnica, em especial, com a interferência de obsessores podem assemelhar-se ou serem induzidos por psicotrópicos que levam aos ECAs.

O caso é que os portadores de transtornos mentais não darão sinais de evidente melhora ou cessação dos sintomas com apenas a interferência no campo espiritual. No entanto, os fenômenos mediúnicos podem ser reprimidos com a medicação antipsicótica, que bloqueia as mesmas vias de manifestação cerebral, como citado anteriormente, dando a impressão de uma patologia psiquiátrica. A observação não pode ser restrita ao fenômeno; é preciso uma leitura completa da história pessoal e um acompanhamento da evolução do caso. Quando o fenômeno se apresenta em médiuns já desenvolvidos, mesmo se suas características são semelhantes a processos psicóticos, poder-se-á fazer com clareza a diferença entre a conduta anterior e posterior do sensitivo em sua vida particular.

– Conteúdo da fenomenologia

Uma questão fundamental para a diferenciação dos fenômenos são os seus conteúdos. Geralmente, as informações na mediunidade são pautadas por maior coerência, revelando dados desconhecidos pelos médiuns, os quais identificam as entidades espirituais que podem ser confirmadas pelas pessoas ligadas a esses processos.

Ainda aqui os fenômenos medianímicos nem sempre apresentam dados bastante claros: a presença de processos de vingança espiritual, por exemplo, pode levar a confusão com os delírios persecutórios. Entretanto, essa perseguição não é necessariamente dirigida para o medianeiro, como nos casos delirantes, cujo conteúdo é auto-referencial.

Também não é comum que as alucinações tenham expressões de beleza e elevado teor moral, diferindo das manifestações de entidades superiores.

Deve ser lembrado nessa situação, como em outros casos, as manifestações histéricas, de profundo colorido anímico, presas aos conteúdos e histórias pessoais, as quais poderão ser identificadas ao ser avaliada a vida do indivíduo em sua totalidade. Isso é dificultado por uma observação comum: a de que muitos sensitivos apresentam tonalidade histérica em sua expressão diária, sejam quais forem os aspectos do relacionamento.

– Personalidade e estado psicológico do medianeiro

As manifestações patológicas estão associadas a uma estrutura emocional doentia. Desse modo, os indivíduos doentes têm um comprometimento geral em seu comportamento e afetividade, diferindo dos médiuns que, fora do fenômeno, são criaturas com uma vida de relação pautada dentro de parâmetros de normalidade.

Grande dificuldade apresentam os casos patológicos associados à presença de sensibilidade mediúnica. Ou seja, os portadores de transtornos mentais que também são médiuns. Para diagnosticá-los é fundamental a presença de um profissional especializado que tenha conhecimento espiritual, em especial o espírita. Para chegar a esta conclusão é necessário, muitas vezes, um acompanhamento do sujeito por um tempo maior. De toda forma, a orientação precisa seria a da interrupção de quaisquer estímulos à mediunidade, cuidando do aspecto médico até que se tenha certeza de outras formas de orientação para o caso.

O uso de antipsicóticos inibirá tanto as alucinações e delírios quanto os fenômenos mediúnicos, causando maiores dúvidas para o diagnóstico. Nesses casos a orientação espiritual através de médiuns sérios e experientes poderá servir como mais um elemento para a diferenciação. É preciso ter o cuidado com posicionamentos extremados e fanatizados de ambos os lados (médico e espiritualista), tendenciosos, a observarem os quadros apenas por um ponto de vista.

– Evolução do fenômeno na vida do sensitivo

Um fator importante é a diferenciação na evolução do sujeito. Em geral a fenomenologia mediúnica não é antecedida de sintomas psicopatológicos graves, nem de distúrbios de caráter acentuados, embora isso possa acontecer em certos casos. O que geralmente se observa são expressões de maior sensibilidade emocional nos relacionamentos, com mudanças súbitas de humor e comportamento, com volta à normalidade em curto espaço de tempo, também presente em alguns processos psiquiátricos.

Nas obsessões graves, porém, a influência de uma entidade espiritual doente sobre o medianeiro pode dar o aspecto de um quadro psiquiátrico. Será necessária a intervenção médica para observar a evolução do quadro, o que, diante dos cuidados espirituais, geralmente não deixará seqüelas. As informações mediúnicas sérias poderão facilitar esse diagnóstico, mas não deverão partir de apenas um sensitivo, como já orientava Allan Kardec.

Com o desenvolvimento mediúnico, os distúrbios emocionais deverão cessar  e as manifestações se restringirão aos momentos de transe. A situação do medianeiro tenderá ao normal na maioria das criaturas, com o despertamento para os aspectos éticos. Toda a postura estará pautada dentro de uma crença específica. No entanto, não se pode esquecer que existem sensitivos voltados para a prática do mal ou ligados ao ganho material através do dom que possuem. A experiência tem mostrado que na maioria das vezes esses médiuns caminham para uma derrocada moral ou para o adoecimento, como efeito de uma ligação mental com energias tóxicas.

A maior parte dos processos psicóticos que envolvem as alucinações e delírios, tem um prognóstico reservado, com repercussão ruim e extensa na vida do paciente, necessitando do uso da medicação por longos períodos ou até mesmo pela vida inteira.

– Exames laboratoriais

Há muito que ser pesquisado e compreendido no que se refere ao funcionamento cerebral. Os estudos dos estados místicos mostram a realidade positiva dos seus efeitos na vida do ser, mas não comprovam sua realidade no aspecto da transcendência. Como foi citado anteriormente, as áreas da visão real, do imaginar uma cena ou das chamadas visões espirituais são as mesmas. Alguns trabalhos científicos citam que o que as diferenciaria seria a intensidade do fluxo das reações aos estímulos. Isso, no entanto, exige maiores estudos e pode ser questionado por aqueles que já conseguem apreender a realidade espiritual.

Existem estudos ligados à glândula pineal que buscam distinguir os processos de cristalização, relacionando-os com alguns tipos de mediunidade; entretanto, esses ainda são preliminares e estão no campo das hipóteses.

Sabe-se hoje que os ECAs são realidade, mas não há aceitação de sua relação direta com as chamadas interferências espirituais,  ou seja, questiona-se o verdadeiro móvel desses estados.

Uma crítica importante a este tipo de pesquisa é semelhante àquela que busca compreender os mecanismos cerebrais durante o ato sexual. A presença de observadores, o uso de aparelhos e a necessidade de um ambiente favorável à pesquisa (nem sempre favorável ao fenômeno) podem inibir a sensibilidade ou causar interferência de tal grau, a ponto de comprometer os resultados.

Outras observações envolveriam níveis de determinadas substâncias durante o processo mediúnico, tais como a melatonina, a dopamina e a adrenalina. Certamente, pelos dados aqui relatados – em especial no que concerne às teorias – essas substâncias são participantes da fenomenologia na sua expressão física. Entretanto, também, os quadros patológicos apresentam alterações dessas substâncias e de forma particular da dopamina.

Todo esse processo será móvel de observações mais rigorosas, com levantamento de dados mais precisos, e em futuro próximo facilitará o reconhecimento da realidade da mediunidade. O certo é que dia-a-dia as pesquisas científicas estão oferecendo parâmetros, os quais têm referendado as informações já noticiadas no campo espiritual, em especial, do Espiritismo.

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