Loucura e mediunidade: Diagnóstico e tratamento

à Trabalho (desdobramento do “Psicose – uma visão médico-espírita”) apresentado em reunião pública na  sede da AMEMG, em Belo Horizonte, MG. (Carlos Eduardo Sobreira Maciel  – carlos.amemg@hotmail.com )

O espiritismo e a ciência se completam reciprocamente;a ciência, sem o espiritismo, se acha na impossibilidade de explicar certos fenômenos só pelas leis da matéria;ao espiritismo, sem a ciência,faltariam apoio e comprovação”

KARDEC (“A Gênese” pg20)

I – CONCEITOS: as definições encontradas em um dicionário da língua portuguesa são as seguintes: “loucura é insanidade mental” e “mediunidade é a comunicação entre espíritos e vivos através do médium”. Embora não sejam equivalentes muitas vezes são confundidas tanto no meio médico como no religioso não espírita. Já se ouviu dizer, nesses meios, que a mediunidade é uma forma da loucura, onde as alucinações auditivas (ouvir as vozes dos espíritos) e idéias delirantes acreditar que se tem o “poder” de conversar com os mortos) estão presentes. Há casos de médiuns que buscam o serviço psiquiátrico devido às manifestações tidas como patológicas {CASO I (HEAL) : Pcte 16a medicado no IRS como psicótico, pois estaria em pleno surto; não houve solução para o problema até que curiosamente um padre amigo da família desconfiou que se tratava de um problema espiritual e o aconselhou a procurar uma casa espírita} e de  psicóticos são  equivocadamente encaminhados à mesa mediúnica {CASO II (HEAL): pcte de 23a com sintomas de alteração do pensamento, com relativa preservação da vida social e profissional; quando solicitado orientação espiritual para a mesma em reunião mediúnica, suspeitando de quadro mediúnico com obsessão espiritual, o mentor recomendou que  procurassem  um psiquiatra. Na evolução do caso houve deterioração do quadro, c/ acentuado prejuízo social e profissional, e síndrome psicótica confirmada}.

Portanto faz-se necessário um aprofundamento nestes temas, a partir de seus conceitos mais elaborados, os quais são encontrados na literatura específica sobre cada assunto (literatura médico-psiquiátrica e literatura espírita), para que se faça a distinção entre loucura e mediunidade.

I.1 – MEDIUNIDADE: (melhor referência é o Pentateuco kardequiano) segundo informação colhida em trecho do “Livro dos Espíritos”, em sua introdução ao estudo da doutrina espírita, “as comunicações dos Espíritos com os homens são ocultas ou ostensivas. As comunicações ocultas ocorrem pela influência boa ou má que exercem sobre nós sem o sabermos; cabe ao nosso julgamento discernir as boas das más inspirações.

As comunicações ostensivas ocorrem por meio da escrita, da palavra ou outras manifestações materiais, muitas vezes por médiuns que lhe servem de instrumentos” (eis a mediunidade).

I.2 – LOUCURA: (referência OMS-Cid 10)  Loucura do ponto de vista médico psiquiátrico seria encontrada sob as formas de psicose, esquizofrenias, paranóia, dentre outras. Considerando o carro-chefe destas patologias, o grupo das esquizofrenias, temos:

# distorções profundas do pensamento: delírios; eco do pensamento; inserção ou roubo do pensamento; irradiação do pensamento; intercepções no curso do pensamento resultando em discurso incoerente, irrelevante ou  neologismos,

# alterações da percepção: alucinações – do latim alucinare, significa etimologicamente dementado, enlouquecido, privado da razão – auditivas, visuais, cenestésicas, cinestésicas, gustativas, olfativas, táteis,

# alterações afetivas: embotamento, inadequação, labilidade. Afeto embotado associado à pobreza de discurso, retraimento social são chamados sintomas negativos.

# alterações comportamentais: catatônicas, tais como excitação, postura inadequada ou flexibilidade cérea, negativismo, mutismo; bizarrices; risos imotivados; solilóquios.

# alterações das características da “consciência do Eu”, funções psíquicas que dão à pessoa normal um senso de individualidade, unicidade e de direção de si mesmo.

Embora a consciência se mantenha clara e a capacidade intelectual mantida, certos déficits cognitivos podem surgir ao longo do tempo. Importante para diferenciar da mediunidade

I.3 – LOUCURA : referência – obras subsidiárias espíritas:

O mentor Homero, em orientação espiritual dada a AMEMG no dia 29-07-2002, nos explica que “… para a compreensão dos transtornos psicóticos, o tema reencarnação é de fundamental importância (…) o conhecimento da reencarnação, associado a etiopatogenia espiritual, dá-nos a clareza da gravidade dos atos dos homens, os quais hoje passam pela prova das psicoses e ainda de uma forma especial da esquizofrenia (…) o espírito teimando em se posicionar por períodos longos de sua vivência, em atitudes de orgulho, poder e crueldade, cria um campo psíquico que se torna terreno propício para as psicoses”.

Em orientação espiritual recebida no dia 11-11-2002, o mentor Carlos explica que a construção do pensamento delirante se dá      “… quando o Ser encontra-se em situação de desequilíbrio e retorna para as fases anteriores do desenvolvimento …” gerando “pensamentos arcaicos ou primitivos …a criatura regride a primitividade dos pensamentos da infância … retoma experiências pessoais, lembranças reencarnatórias”. ( obs: quadros de hebefrenia, paranóia e etc.)

Encontramos esclarecimentos também sobre as alterações sensoperceptivas em 9-9-2002, orientação espiritual do mentor Homero : “… as imagens (alucinações) pertencem basicamente a duas origens … a primeira delas se reporta às suas vivências (compatível com o passado do paciente), onde a culpa, medo e ódio saem do campo do inconsciente e fazem projeção dentro do processo psicótico … a segunda ocorre com o surgimento de imagens oníricas (são pesadelos), ocorridas no processo de alienação, em que o portador do transtorno sai do contato com sua vida real e se abriga num mundo à parte, onde as imagens não têm ligação com experiências passadas (…) as alucinações mais ricas tanto em detalhes quanto numa construção aparentemente lógica estariam no primeiro grupo. Enquanto que, os processos muito desagregados estariam no segundo”. Aqui lembrar do conceito pobre de alucinação “percepção sem objeto” e alucinoses, do ponto de vista espiritual.

Explicação do Dr Bezerra (Loucura e Obsessão) sobre a formação da doença esquizofrênica: “A esquizofrenia é enfermidade muito complexa… suas origens profundas se encontram ínsitas no Espírito que delinqüe. A consciência individual quando desencarnada, se descobre em delito e engendra mecanismos de auto-reparação… a consciência individual imprime, nas engrenagens do perispírito, os remorsos e turbações, os recalques e conflitos que perturbarão os centros do sistema nervoso…”

Vemos portanto que o Espiritismo não faz desaparecer as esquizofrenias colocando-as junto da mediunidade bem como a  psiquiatria não inclui o médium no grupo de esquizofrênicos, já que os médiuns não apresentam todo o quadro sintomatológico necessário para se diagnosticar a doença esquizofrênica.

I.4 – “Reconsideração da mediunidade”: na 10a edição da Cid 10, os fenômenos mediúnicos já não são considerados ‘loucura’, mas sim transtornos de transe e possessão, transtornos nos quais há uma perda temporária tanto do senso de identidade pessoal quanto da consciência plena do ambiente; em alguns casos, o indivíduo age como se tomado por uma outra personalidade, espírito, divindade ou “força”.

Como visto, teoricamente não há igualdade entre mediunidade e loucura, mas na prática pode haver semelhanças.

II – DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL: este termo é usado em indivíduo apresenta um quadro de sinais e sintomas que apontam para duas ou mais possibilidades e diante disto tentamos “encaixar” o quadro em questão nas diversas possibilidades através de comparações e diferenciações.

No exercício da psiquiatria e na prática espírita muitas vezes nos deparamos com estas situações em que há possibilidade de tratar-se de um caso de eclosão mediúnica ou surto psicótico?

Geralmente o médium, com todos o ‘sintomas’ próprios da eclosão mediúnica tais como ver ou ouvir espíritos, permanece com a crítica da realidade e expressão afetiva  preservadas, sem declínio de sua vida social, familiar e profissional, o que não ocorre com o psicótico. Este apresenta uma quebra em sua linha de vida, “passou a ser outra pessoa e nunca mais voltou ao que era antes…”, relatam familiares.

Caso não consigamos diferencia-los buscamos o auxílio da orientação em reunião mediúnica.

III – LOUCURA e OBSESSÃO: no aprofundamento do estudo da etiopatogenia da loucura, não se pode mais descartar as incidências da obsessão.

O espírito Manoel Philomeno De Miranda, no livro “Loucura e Obsessão”, esclarece que o Espiritismo não nega a loucura e as causas detectadas pelos pesquisadores do passado e do presente, mas acrescenta que a doença mental permanece como um grande desafio para todos aqueles que se empenham na compreensão da sua gênese, sintomatologia e conduta.

O mentor chama a atenção para a necessidade de melhor identificarmos a fronteira divisória entre os episódios psicopatológicos e os obsessivos. Dentro desta perspectiva devemos sempre considerar a co-morbidade loucura e obsessão e ainda os quadros de obsessão pura.

Caso Antenor: “obsesso, tomado por crises de loucura iniciadas com cefalalgias violentas, que o levavam a convulsões de aparência epiléptica, culminando na apatia quase total, quando subjugado pelos cobradores”

Caso III (HEAL): rapaz de 19 a, com crises de agitação psicomotora e heteroagressividade, intercaladas com períodos de plena sanidade mental. DD com epilepsia temporal e psicose, dentre outros. Não se caracterizou como quadros médicos puros. Detectada grave obsessão, subjugação com mudança na tonalidade da voz e na força física do obsediado.

Caso Carlos: paciente portador, segundo os médicos, de esquizofrenia catatônica. Dr. Bezerra De Menezes, no plano espiritual, examinou o paciente, auscultou-lhe os registros psíquicos, mergulhando nos arquivos perispirituais, elucidou que o diagnóstico psiquiátrico era exato. Esclareceu ainda que havia além da doença, processo de resgate de faltas graves, a presença de alguns adversários espirituais que se lhe vinculavam, como cobradores impenitentes.

O que se observa é um altíssimo índice de obsessão espiritual em casos de psicose. Encontramos uma explicação para a grande incidência de patologias mentais concomitantes às obsessões espirituais em um artigo do Dr Roberto Lúcio, na revista Delfos, Ano IV, Ed. 3, Número 18: “… a obsessão é um processo de afinidade mental negativa e o portador de doença mental é sempre uma antena emissora e receptora estragada que atrai entidades espirituais doentias para si…”.

IV – TRATAMENTO:

à Esquizofrenias: tratamentos biológicos (psicofármacos e eletroconvulsoterapia) e tratamento psicoterápico.

* ECT: introduzida em 1938; eficácia e segurança claramente estabelecidas; controvérsia ideológica trazida pelo movimento antipsiquiátrico e pelos presumíveis efeitos deletérios (nunca comprovados) sobre o cérebro; consiste na aplicação de uma série de estímulos elétricos para desencadear uma crise convulsiva, com duração de 25 segundos de manifestações motoras ou 20 segundos de manifestações eletroencefalográficas com finalidades terapêuticas; riscos: a mortalidade associada à ECT é a mesma associada à anestesia geral para uma pequena cirurgia (1 morte para 10000 pacientes tratados).

* Em “No Mundo Maior” (cap.7) o mentor Calderaro explica a André Luiz que “a medicina atual vem utilizando a terapêutica do choque…o choque elétrico constitui apelo vivo aos centros do organismo perispirítico, convocando-os ao reajustamento e compelindo os neurônios a se readaptarem para o serviço da mente em processo regenerador”

* O mentor Rafael, em orientação espiritual do dia 16-12-2002, fala de uma possibilidade psicoterápica “no sentido da não-violência, no sentido da valorização da paz, do reaprendizado do toque carinhoso, do gesto amigo, do sorriso de alegria e de fidelidade” já que é visível “nível de crueldade que demarcou por diversas vezes, a caminhada dos irmãos (psicóticos)”.

à Mediunidade: desenvolvimento mediúnico em casa espírita. Em “Evolução Em Dois Mundos” (cap. Mediunidade e Corpo Espiritual), André Luiz nos lembra que “a mediunidade é faculdade inerente à própria vida … a qual requisitará aprimoramento da personalidade mediúnica e nobreza de fins, para que o corpo espiritual, modelando o corpo físico e sustentando-o, possa igualmente erigir-se em filtro leal das esferas superiores…”

à Obsessão:  tratamento desobsessivo. Divaldo Pereira Franco

(“Saúde e Espiritismo”, AME-Brasil, cap. Desobsessão e Terapêutica de Amor”), relata que “o tratamento desobsessivo terá que se dar no interior para o exterior mediante a renovação do próprio paciente, quando se resolve pela mudança de atitude mental e conseqüente transformação moral para melhor” (…) “…a desobsessão é a saudável terapia espírita … não se dá , porém, exclusivamente durante os trabalhos especializados, mas também através das conversações edificantes, das leituras enobrecedoras, dos espetáculos de arte  portadoras de mensagens elevadas, das conferências instrutivas…”

V – REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS :

1 – CID 10, OMS, 10a edição.

2 – Condutas em Psiquiatria, 4a edição, editora Lemos.

3 – “A GÊNESE”, Alan Kardec.

4 – “O Livro Dos Espíritos”, Alan Kardec.

5 – “Loucura e Obsessão”, Divaldo P. Franco, Manoel P. De Miranda.

6 – Revista Delfos, ano 4, ed.3, número 18.

7 – “No Mundo Maior”, cap.7, Chico Xavier, André Luiz.

8 – “Evolução Em Dois Mundos”, cap. Mediunidade e corpo espiritual, Chico Xavier, André Luiz.

9 – “Saúde e Espiritismo”, cap. Desobsessão e terapêutica de amor, AME – Brasil.

10 – Orientações espirituais, Mentores da AMEMG.

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